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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O check-up completo


Foi um post no FB que achei tão presente na nossa realidade, que decidi compartilhar por aqui...


Todos nós já fomos abordados pelo paciente assintomático, sem doenças, a solicitar o seu "CHECK-UP COMPLETO", uma boa parte, mais de uma vez por ano (!).

Vejam o link do texto do New York Times.

Check-up completo é entendido pela maioria dos pacientes como uma bateria interminável de exames, exames, exames e não a consulta. Quanto mais exames complementares (a palavra complementar já diz muita coisa, não?) forem pedidos, provavelmente melhor é o médico e quanto mais números eu tenho dentro daqueles limites “normais”, melhor é minha saúde, certo?

Muito trazem até a preocupação de não incomodar o Doutor:
-“Dr. num vou tomar seu tempo não… É rápido! Passe só um check-up cooooompleto! Pode pedir tuuuuudo!”

Já que se paga um plano de saúde caro, devemos aproveitar e fazer todos exames de sangue, esteira, ECO, ECG, MAPA, ressonância magnética, etc etc etc repetindo de preferência para garantir que estou bem, correto?

Pela pergunta, vocês já sabem: a resposta é REDONDAMENTE ERRADO!

Primeira coisa é que há necessidade de uma boa anamnese e exame físico para identificação dos riscos em saúde e para que se possa avaliar o que se pode ou não ser considerado saudável. Isso não tem como ser feito em “segundos” ou “rapidinho”.

Segundo é que, além de ineficiente, essa estratégia já se comprovou como tendo potencial nocivo, muitas vezes entrando numa espiral de condutas em cascata que podem causar morbidade, e em alguns extremos, mortalidade, especialmente quando se aprofundam com exames invasivos sem indicação clínica.

Então quem não sente nada não precisa ir pro médico até adoecer ou sentir alguma coisa???

Também não é isso!

Existem vários exames considerados screenings (rastreios) primários a serem feitos em pessoas aparentemente saudáveis, independentemente da presença de sintomas. Outros mais são realizados se a pessoa possui alguma condição (hipertensão? obesidade? tabagismo? história familiar? etc.).
As evidências embasam esses exames e o intervalo a serem pedidos com foco em melhorar qualidade de vida, morbidade e mortalidade de patologias, tentando casa-las com a economicidade.

É verdade de que essas recomendações não são imutáveis. Exemplo é o PSA que cada vez mais cai, como na recomendação da United States Preventive Services Task Force de não utilizar mais PSA para screening de câncer de próstata em nenhuma idade. Já para fumantes pesados, foi evidenciado que screening de câncer de pulmão por TC helicoidal de “baixa radiação” diminui a mortalidade… Antes se achava não haver screening para esse câncer com impacto em morbi-mortalidade... Tudo muda, exceto a mudança...

Já outros exames são pedidos de acordo com achados de anamnese e exame físico, como um sopro patológico, uso não saudável de álcool, tabagismo, IMC alto, circunferência abdominal elevada, HF precoce de doença cardíaca, história de roncos, uma palidez, icterícia e tantas outras coisas que podem ser descobertas no paciente assintomático...

O interessante, é que existem rastreios primários que devem ser feitos na população geral assintomática e que passam batidos... Pedir uma colonoscopia para quem tem mais de 50 anos ou um US doppler de Aorta se foi ou é fumante, um raio X de abdomen com incidência lateral se é renal crônico, HIV e outras sorologias se tem comportamento sexual de risco, perguntar se fuma e orientar ou encaminhar para abandono de tabagismo, observar obesidade e sobrepeso e outros  tantos mais…

Mas muitos dos pacientes nesse perfil não têm esses screenings. A despeito têm anualmente uns 3 ou 4 Cr, Ur, HC, todos eletrólitos, sumários de urina, TGO, TGP, FA, GGT, TAP, TTPA, colesterol, glicemias, acido úrico, coagulograma etc etc além de 2 ECOs, 2 esteiras, num sei quantos MAPAS e a lista cresce, cresce e cresce. Só pra garantir que estejam “saudáveis”.

Vejo, cada vez mais, a sensação de saúde ocorrer ao se avaliar leigamente números em papeis… às vezes com ajuda do Dr. Google… Trocando a avaliação do médico e enfraquecendo sua relação com o paciente.

Bem, mas é papel do médico também educar e desestimular essa cultura e por isso post no nosso blog:

NÃO se pode interpretar saúde olhando só pra coluna da direita (valores "normais”) de exames. Se isso fosse verdade, prescindiríamos de médicos!

Lembrem-se do que já postei: o que é um exame normal? Uma colesterol considerado satisfatório pra um jovem, pode ser extremamente ruim para um idoso, diabético, safenado. HbA1C de 7,5% para um jovem DM1 é uma coisa, para um idoso 80 anos DM2 é outra… Converse mais com seu médico!

O que me traz pena e é desestimulante é que na rotina da correria, médicos têm cada vez menos tempo, especialmente se atendendem por planos de saúde que pagam menos de 40 reais líquidos pela consulta com o retorno incluso. Às vezes, para poupar trabalho/tempo (que não é pouco) ou por não gostar dessa parte da conversa, acabam cedendo para “se livrar” do paciente ao invés de negociar e educar…

Para os pacientes fica a dica abaixo:


Qual o exame que você não deveria deixar de ter e pedir?
É o físico, EXAME FÍSICO + BOA ANAMNESE!

E o check-up vai ser mais completo, quanto mais completo forem esses procedimentos!

Abraços,

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