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terça-feira, 3 de maio de 2016

Qual anticoagulante preferir na TVP (Trombose Venosa Profunda)? Anticoagulantes novos ou Varfarina?


A warfarina (veja posts prévios: Dicas para manejo de anticoagulação com warfarina e CME - Varfarina) tradicionalmente consagrada como principal anticoagulante oral no nosso meio,  compartilha agora espaço com novos anticoagulantes orais anti trombínicos e anti fator Xa (Anticoagulantes direstos).  

O UpToDate em um Practice Changing Uptade dá preferência a eles no tratamento de TVP, exceto em gestantes, pacientes com câncer ativo e insuficiência renal grave. Claro, como sempre, temos que contextualizar para nossa realidade a disponibilidade, custo, preferência do paciente, necessidade de monitorização laboratorial etc.


Agent selection for anticoagulation in venous thromboembolism
Practice Changing UpDate: For long-term anticoagulation for venous thromboembolism in most nonpregnant patients who do not have severe renal insufficiency or active cancer, we suggest a direct oral anticoagulant (ie, apixaban, edoxaban, rivaroxaban, or dabigatran) rather than other agents (Grade 2B).
Guidelines for the treatment of acute venous thromboembolism (VTE) were issued by The American College of Chest Physicians (ACCP) [1]. Compared with earlier versions of the guidelines, the direct oral anticoagulants (DOACs) apixaban, edoxaban, rivaroxaban, or dabigatran are now the preferred agents for long-term anticoagulation in patients who are not pregnant and do not have active cancer or severe renal insufficiency. This preference was based upon randomized trials that consistently reported similar efficacy, a lower bleeding risk, and improved convenience when compared with warfarin. We agree with this preference for DOACs in patients with acute VTE, understanding that choosing among anticoagulants frequently depends upon availability and cost as well as patient comorbidities and preferences.
See 'Venous thromboembolism: Long-term anticoagulation, section on 'Selection of agent'.
1. Kearon C, Akl EA, Comerota AJ, et al. Antithrombotic therapy for VTE disease: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest. 2012;141(2 Suppl):e419S.


For most non-pregnant patients who do not have severe renal insufficiency (eg, creatinine clearance <30 mL/minute) or active cancer, we suggest a direct oral anticoagulant (ie, apixabanedoxabanrivaroxaban, or dabigatran) rather than other agents (Grade 2B). In general, these agents have similar efficacy to warfarin and a lower risk of bleeding; however, access to a reversal agent may be limited. Direct oral anticoagulants are NOT suitable for the treatment of hemodynamically unstable pulmonary embolism (PE), massive iliofemoral deep vein thrombosis (DVT), those who are pregnant, or those with severe renal insufficiency. Dosing of these agents is individualized. (See 'Selection of agent' above and 'Direct thrombin and factor Xa inhibitors' above.)




sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Dicas para manejo de anticoagulação com warfarina

fonte:
http://portal.crfsp.org.br
Como manejar anticoagulação oral com warfarina?

Anticoagulação plena é terapêutica necessária em várias situações clínicas, como TVP, embolia pulmonar, uso de válvulas cardíacas, presença de fibrilação atrial etc.

Apesar do surgimento dos novos anticoagulantes orais como Dabigatran (Pradaxa ®), Rivaroxaban (Xarelto ®) etc., que prescindem de controle laboratorial, a warfarina (Marevan ®, Coumadin ®) continua largamente utilizada pela sua eficácia como anticoagulante e pela experiência de décadas de uso. Entretanto a  warfarina traz o inconveniente de necessitar de controle pelo TAP/INR e ter uma estreita janela terapêutica.

A importante variação interpessoal do seu efeito e várias interações com medicamentos, dieta e situações clínicas relevantes podem colocar os pacientes sob risco de sangramento ou de trombose ao sair da faixa terapêutica.

Então algumas questões:


Qual dose de warfarina começar?

Usualmente a dose inicial é de 5 mg por dia.

Dose menor (p.ex. 2,5 mg/d) deve ser considerada em:
  • Idosos
  • Pacientes muito magros
  • Asiáticos
  • Baixa albumina
  • Ins Cardíaca Congestiva
  • Hipertiroidismo
  • Uso de medicações que interajam com metabolismo da warfarina (ver abaixo).

Dose maior 7,5 mg pode ser considerada em:
  • Obesos
  • Afrodescendentes
  • Hipotireoidismo
  • Uso de medicações que interajam com metabolismo da warfarina (ver abaixo).

Dose inicial de 10 mg, em geral, não é utilizada. Entretanto, o 9th ACCP recomenda que se pode fazer dois dias seguidos de 10 mg e reduzir para dose de manutenção que se estipula. Isso pode levar a INR supraterapêutico com maior frequência e não necessariamente se relaciona com efeito clínico, uma vez que sua subida precoce demonstra inibição do fator VII que tem a menor meia vida (6 horas) e não do fator II (60 horas). Efeito antitrombótico pleno usualmente ocorre do 5º dia em diante.


Quando fazer ponte com heparina para iniciar warfarina?

Usualmente em situações em que já haja trombos formados (evitar propagação) e em pacientes com deficiência de proteína C e proteína S. Deve permanecer por pelo menos 5 dias (pelo supramencionado), sendo o ideal mantê-la até se ter 2 INR na faixa terapêutica desejada.


Como ajustar a dose da warfarina após os primeiros dias?

Veja como ajustar as primeiras doses pela tabela abaixo:


Fonte: Current Medical Diagnosis and Therapeutics 2015


Em pacientes em uso de doses estáveis de warfarina, como ajustar INR que se encontra fora da faixa terapêutica?

Antes de fazer qualquer modificação na dose, é necessário avaliar:

  • Aderência
  • Interações medicamentosas
  • Alterações dietéticas
  • Alterações clínicas


# Aderência

Sempre avaliar omissão de doses ou doses extras e o horário das medicações.

# Interações medicamentosas

As principais drogas que aumentam o efeito da warfarina são:

  • Amiodarona
  • Fluconazol
  • Metronidazol
  • Bactrim
  • Anti-inflamatórios
  • Outros antibióticos

As principais drogas que reduzem o efeito da warfarina são:
  • Carbamazepina
  • Barbitúricos
  • Metimazol
  • Propiltiuracil
  • Rifampicina

Várias medicações, mesmo sem prescrição, polivitamínicos, chás etc. podem interagir. Por isso é importante comunicar toda e qualquer mudança em terapêutica, incluindo não somente uso de novas medicações, como também a suspensão e mudança de dosagem de medicações já em uso.


# Interações dietéticas

Alimentos ricos em vitamina K podem inibir efeito da warfarina. Entretanto, é um MITO que pacientes em uso de warfarina não podem comer folhas verdes, legumes e algumas frutas. Esses alimentos fazem parte de uma alimentação balanceada saudável, geralmente necessária e coadjuvante no tratamento de tantas outras condições associadas ao que levou à necessidade de se utilizar warfarina (obesidade, hipertensão, diabetes etc.). A chave é a moderação e constância no consumo desses alimentos. Por razões óbvias, esses pacientes usualmente necessitarão de doses maiores de warfarina para se manterem na faixa terapêutica.


# Alterações clínicas

Alterações da função tireoideana, exacerbações de insuficiência cardíaca e pacientes críticos podem ter alterações significativas no INR.


Como modificar a dose de warfarina para ajustar INR fora da faixa terapêutica?

O ideal é fazer o ajuste da dose semanal total

Também é desejável que se evitem doses muito diferentes de um dia para o outro. Por exemplo, é muito comum se fazer esquema tipo (1), com variação de até 100% da dose de um dia para o outro. O esquema tipo (2), um e meio comprimido de 2,5 mg de Coumadin® diário poderia ser mais interessante. 

SEG
TER
QUA
QUI
SEX
SÁB
DOM
Total
(1)
5
2,5
5
2,5
2,5
5
2,5
25mg
(2)
3,75
3,75
3,75
3,75
3,75
3,75
3,75
26,25mg


Infelizmente as apresentações brasileiras de Coumadin® são de 1 mg, 2,5 mg e 5 mg, enquanto nos EUA há uma grande variedade de apresentações (veja figura).



A tabela abaixo mostra como ajustar a dose da warfarina semanal de acordo com com o INR alvo:

Fonte: Current Medical Diagnosis and Therapeutics 2015

Como proceder em paciente que se encontra com INR elevado?

A conduta deve ser individualizada de acordo com a presença de sangramento grave ou risco de sangramento do paciente.

São fatores de risco para sangramento:
  • Idade acima de 65 anos
  • Hipertensão não controlada
  • Insuficiência renal (Creatinina > 1,5 mg/dL)
  • Risco de queda
  • Doença hepática
  • Histórico de sangramento digestivo ou genitourinário

Quando não há sangramento maior ou risco de morte (veja tabela abaixo), usualmente a suspensão da warfarina associada ou não ao uso de vitamina K em apresentação oral, (a depender do INR e risco de sangramento), usualmente são suficientes.




Veja como se conduzir de acordo com o INR, risco de sangramento ou sangramentos maiores.


Fonte: Current Medical Diagnosis and Therapeutics 2015

Como administrar vitamina K?

Não temos apresentação oral de vitamina K. 
É possível fazer a solução para administração EV misturada com suco por via oral.
As apresentações disponíveis:
  • Vitamina K 10 mg/ml (adulto)
  • Vitamina K 2 mg/0,2 ml (pediátrica)
As vias intramuscular e subcutânea devem ser evitadas!

A vitamina K EV na dose de 10 mg deve ser diluída em 50 ml de cristalóide e aplicada em 30 min  por bomba de infusão para evitar reações anafilactóides.


Como administrar plasma fresco congelado?

PFC na dose de 15-30 ml/kg. Lembrar que a reversão ainda é parcial, uma vez que só consegue subir até aproximadamente 20% os níveis de fator IX.

OBS: O complexo protrombínico (4PCC) na dose de 25-50 U/kg é a terapêutica que mais rapidamente consegue reverter os efeitos da warfarina.

Leitura complementar e referências:



Curiosidades históricas

A Warfarina traz esse nome derivado da WARF (Wisconsin Alumni Research Foundation), uma fundação de pesquisa fundada por 9 alunos da Universidade de Wisconsin com 900 dólares em 1925. Ficaram famosos por patentear uma forma de fortificar alimentos com vitamina D através de radiação UV. Entretanto,  em 1933, um fazendeiro entrou na universidade com um bezerro morto e uma lata de leite com sangue que não coagulava. Era a doença do trevo doce (Melilotus alba, M. officinalis), que fora utilizado na silagem e formava dicumarol, isolado em 1941 por Karl Paul Link. Em 1948 um análogo mais potente, WARFarina, foi utilizado como veneno de rato. Somente após ver uma tentativa de suicídio fracassada com 576 mg de warfarina, foi decidido começar a usá-lo em humanos.

 Para saber um pouco mais sobre essa história, clique aqui: http://toxsci.oxfordjournals.org/content/66/1/4.long e http://portal.crfsp.org.br/revistas/459-revista-do-farmaceutico/revista-115/5358-revista-do-farmaceutico-115-cultura-farmaceutica.html



sábado, 14 de dezembro de 2013

CME - Varfarina

Caros,
Alguns complementos e reforços:
  • Para TVP confirmada, o ideal é começar o enoxaparina ou fondaparinux conjuntamente com Marevam e mantê-los por pelo menos 5 dias e até se ter 2 INR na faixa terapêutica (9th ACCP);
  • Interações medicamentosas são a principal causa de variação significativa de INR. Sempre pesquisá-las.
    • Os principais que aumentam:
      • Amiodarona (por longos períodos, por ter grande meia vida)
      • Metronidazol
      • Sulfametoxazol com trimetropim
      • Fluconazol / Cetoconazol / Itraconazol
    • Os principais que diminuem:
      • Carbamazepina
      • Barbitúricos (fenobarbital p.ex.)
      • Propiltiuracil e Metimazol
    • Fenitoína pode aumentar inicialmente e após diminuir (por deslocar da albumina)
  • Descompensação de doenças podem interferir no efeito da varfarina
    • ICC descompensada → congestão hepática → diminuição de metabolismo → INR ↑
    • Hipotireoidismo → diminui metabolismo fatores vit. K → INR  diminui
    • Hipertireoidismo → aumento metabolismo fatores vit. K → INR aumenta
  • Para sangramento importante induzido por de varfarina, independentemente do INR:
    • PFC 10 ml/kg (ataque) para correr em 1 hora (preferência por BIC). UpToDate recomenda doses de até 15-30 ml/kg a depender da capacidade do paciente de tolerar volume.
    • Vitamina K ampola 10 mg/ml apresentação EV - diluir em 50 ml de SF0,9% e fazer em 20-30 min (mais rapidamente pode dar anafilaxia, então recomenda-se sempre infusão mais lenta que 1 mg/min). UpToDate recomenda que dose pode ser repetida de 12/12h a critério. Efeito inicia com 2 horas, mas é máximo próximo a 24 horas.
    • Pode ser necessário 5 ml/kg de 6/6h (se dúvida da manutenção do sangramento) - cuidado com sobrecarga de volume.
    • SEMPRE pesquisar a causa do sangramento
    • Infelizmente, o complexo protrombínico e fator VIIa, no HEMOCE, só são reservados aos hemofílicos.
  • Varfarina não pode ser utilizada quando há suspeita de trombocitopenia induzida por heparina até a normalização das plaquetas e se iniciada inadvertidamente, deve ser revertida com Vitamina K. 
  • Varfarina deve ser iniciada com muito cuidado em pacientes com deficiência de Proteína C e S.
Abraços,