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terça-feira, 1 de maio de 2012

Ser Médico e a Relação Médico-Paciente


Texto extraído da revista Jornal Medicina do CFM nº204 Janeiro/2012


A defesa da humanização do atendimento médico foi o cerne da entrevista feita pelo jornal Medicina com o conselheiro Rubens dos Santos Silva. Representante do Rio Grande do Norte junto ao CFM, ele aborda com propriedade o delicado equilíbrio estabelecido na relação médico-paciente. 

Confira: 



Jornal Medicina - Qual a chave do sucesso para uma boa relação médico-paciente? 
Rubens dos Santos Silva - Não há segredos. O que ocorre é que a medicina é a mais solidária das atividades. Então, quem se propõe a ser médico já deve possuir esse traço em sua personalidade: o da solidariedade, o da compreensão, da aceitação do outro do ser humano. Isso lhe dá imenso crédito de confiança ante aqueles que se entregam aos seus cuidados.

JM - Mas esse desprendimento não exige demais do médico, também um ser humano com limites?
RSS - Não entendo assim, pois esse traço é inerente à pessoa. Alguém que exerce a medicina como uma profissão qualquer, como vemos acontecer em alguns locais onde os doentes são tratados como usuários e o médico como prestador de serviços, comete um equívoco. Tal comportamento é uma forma alienada de ver a relação médico-paciente. O paciente é um ser humano em desvantagem porque está em sofrimento e entrega-se a um outro – o médico – que, supostamente, merece essa confiança. Então, deve ser implícito ao profissional saber lidar com essa realidade. Entendo que tal dispor é o foco deste desprendimento e que o profissional deve se empenhar para tratar seu paciente. 


JM-Esse é o modelo ideal. No entanto, o senhor enxerga distorções neste processo?
RSS- Como disse, entendo que há um equívoco entre aqueles que entendem que na relação estabelecida entre o médico e o paciente existe apenas um contrato de prestação de serviços. Não se trata disso. Em minha opinião, a medicina não tem a obrigação de curar, mas se pode exigir do médico que ele cuide, que trate seu paciente da melhor forma possível.

JM - Como se preparar para este desafio diário?
RSS - Na equação da relação médico-paciente, o médico está na ponta mais forte. É ele que foi procurado e detém o poder. O outro, que busca o tratamento é a parte frágil. Sendo assim, cabe ao mais forte oferecer a quem dele depende o conforto esperado. Pois quem está humilhado pela doença não tem essa força, e não podemos dele exigir isso. O paciente pode gritar, xingar, reclamar, mas, mesmo assim, o médico deve exercer seu papel acolhedor, repassando calma, tranquilidade e oferecendo confiança.


JM - Existem regras que podem ajudar o médico em sua jornada?
RSS - Tenho dúvidas sobre a pertinência de códigos escritos para regular essa situação. Mas vejo como uma necessidade impingir aos futuros médicos a compreensão de seu papel desde os primeiros anos de formação nas escolas de medicina. Com o tempo, este aluno passaria a entender essa missão e fazer esse exame de consciência. Enfim, perceber que o médico atende pessoas, atende a mãe de alguém, o filho de alguém. Aceitar que a relação se estabelece com seres fragilizados, o que exige o máximo de empenho, sem a promessa da cura, mas com a certeza de que todos os esforços serão empreendidos na luta contra a doença. Daí a gratidão de pacientes e suas famílias para com o profissional, independentemente da cura. Muitas vezes vemos o falecimento de alguém e nos anúncios há o agradecimento explícito ao médico que o atendeu. Certamente, naquele caso houve um bom atendimento.


JM - Nesse sentido, há deficiências no ensino médico?
RSS - São falhas que se incluem nas fragilidades éticas de nossa própria sociedade. Seria difícil exigir que apenas naquele período de formação, de preparo, fosse exigido esse compromisso do futuro médico. O ideal seria uma maior conscientização de todos médicos ou não.


E você? O que acha??
Comente!


Abraços,


Rainardo.

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